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«Para quem tem uma vivência mais urbana, existe um enorme desligamento do mundo natural»

Publicado a 18/09/2024, na categoria: Booksmile, Destaque, Entrevistas

Com textos de Gonçalo Elias e fotografias de José Frade, O Meu Guia de Aves, editado pela Bookmsile, é um apelativo guia de natureza para toda a família. Com livros anteriores dirigidos a um público adulto, os autores, com uma longa experiência dedicada à observação de aves, pretendem com este guia adaptado aos mais jovens atrair novos adeptos para uma atividade que traz inúmeros benefícios. Ser paciente, atento e gostar de ar livre: eis os requisitos essenciais do bom observador de aves.

 

A observação de aves é uma atividade com muitos adeptos entre as crianças e as famílias? Ou ainda está por descobrir?
A atividade tem conquistado muitos adeptos, mas sobretudo entre o público adulto. No caso dos mais pequenos, pensamos que ainda há bastante por fazer, a fim de os sensibilizar para o contacto com a natureza. Este novo livro pretende ser um contributo nesse sentido, ao usar uma linguagem e uma apresentação que pensamos ser mais apelativa para essa faixa etária.

 

Observar aves pode convencer os miúdos a tirar os olhos dos ecrãs?
Sem dúvida. As atividades de exterior, ao promoverem uma imersão no mundo natural, podem ajudar a abrir os olhos para o mundo que nos rodeia. É certo que poderá haver alguma resistência em largar os ecrãs, contudo parece-nos que a tecnologia também poderá ser um aliado neste contexto: atualmente existem muitas páginas e aplicações com informação útil e detalhada acerca do mundo natural. Deste modo, o caminho poderá passar por ensinar os mais pequenos a tirar partido dessas ferramentas.

 

Além dos benefícios de ser uma atividade de natureza, a observação de aves também ajuda a treinar a concentração e a atenção?
A observação de aves pode ser útil em vários aspectos. Naturalmente que o simples facto de visitar locais fora das zonas urbanas traz benefícios para a saúde, por permitir o contacto com um ar menos poluído. Mas tem outros benefícios: permite descobrir e conhecer quais as espécies de aves que temos por cá, quando ocorrem e onde podem ser vistas. A concentração é importante, nomeadamente para conseguir ver e ouvir espécies mais esquivas, que podem ser difíceis de detectar. Por outro lado, para quem tenha espírito de colecionador, esta atividade pode revelar-se muito interessante, pois é possível ir construindo listas de espécies vistas no país, durante um ano ou mesmo ao longo da vida e, à medida que se vai progredindo, cresce o desejo de ver ou fotografar novas espécies, o que leva a visitar locais diferentes. Por esta via, a atividade ajuda a descobrir novas regiões, seja no país ou no estrangeiro.

 

Podem indicar três caraterísticas essenciais do observador de aves?
Paciência, atenção e gosto pelas atividades ao ar livre.
A paciência é necessária, porque as aves nem sempre estão onde nós queremos e quando queremos. Isto significa que os resultados muitas vezes não são imediatos. É, pois, necessário, ter bastante paciência para procurar e esperar, a fim de conseguir atingir os resultados desejados.
A atenção é importante, pois a identificação de aves faz-se, muitas vezes, com base em pormenores. É necessário investir algum tempo a descobrir esses detalhes, que podem ser a forma de distinguir duas espécies muito parecidas.
Por fim, o gosto pelas atividades ao ar livre é em elemento essencial, dado que as aves selvagens andam todas em liberdade e, para as conseguirmos ver e fotografar, temos de ir ao seu encontro nos sítios onde elas ocorrem.

 

Este guia pretende ser também uma ferramenta de apoio para os professores? A escola devia promover mais as atividades de ar livre?
Embora não tenha sido pensado especificamente para o contexto escolar, acreditamos que poderá ser útil para ajudar os professores a sensibilizar os mais novos, uma vez que também se procurou ter uma abordagem pedagógica.
Hoje em dia, para quem tem uma vivência mais urbana, existe um enorme desligamento do mundo natural. Neste sentido, a escola pode ter um papel fundamental na promoção do contacto com o exterior e, em concreto, com a natureza, nomeadamente através da criação de oportunidades para ver os animais e as plantas ao vivo e não apenas em livros ou num ecrã.

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