Matilde e as horas roubadas
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A bruxa mais fixe de sempre está de volta com mais uma aventura. Desta vez a Matilde quase se perde no tempo, mas graças à amizade e à sua coragem, consegue salvar-se!
Publicado a 27/11/2023, na categoria: Entrevistas, Bruxa Matilde, Destaque, Nuvem de Letras
A escritora Rosário Alçada Araújo assina este texto, apresentado no lançamento do quinto volume da coleção Bruxa Matilde, de Patrícia Furtado. Uma viagem por um universo mágico e rico, com uma magia «lógica e desafiante», onde somos desde logo enfeitiçados pelas palavras. Uma porta de entrada privilegiada, cheia de pistas deliciosas, para uma coleção que se tem destacado na atual literatura infantojuvenil portuguesa.
A imaginação o e a capacidade de contar histórias da Patrícia misturou-se com as letras. Os ilustradores já contam muitas histórias através das ilustrações que fazem, mas a Patrícia teve vontade de escrever.
E nós sabemos que a escrita muitas vezes espelha a vida do autor, a maneira de ser do autor. Eu tenho vindo a ler todos os livros da Bruxa Matilde. Mas desta vez, assim que soube que ia apresentar este livro Matilde e O Espelho da Sorte, e comecei a pensar no que ia dizer, veio-me de imediato à cabeça uma coisa: a Patrícia e Bruxa Matilde são uma e a mesma pessoa!
Senão vejamos:
A Bruxa Matilde é mágica. A Patrícia também. Se a Patrícia não fosse mágica, a cidade de Torres Altas não existiria. E se a cidade de Torres Altas não existisse, não era só a Bruxa Matilde que não existia. Não conheceríamos todo aquele mundo cheio de feitiços e personagens tão originais (e problemas tão originais).
A Bruxa Matilde procura resolver problemas. Quantas vezes na minha vida de editora e de escritora e de pessoa que é amiga da Patrícia, eu recorri, e continuo recorrer, a esta bruxinha a pedir ajuda! E ela lá está, com uma vassoura – que eu nunca vi, mas de certeza que a tem –, com uma energia e um sentido de responsabilidade infinitos.
A Bruxa Matilde tem uma curiosidade gigante pelo mundo que a rodeia. Daí meter-se em tantos sarilhos e sempre com a melhor das intenções. Tal como a Patrícia, que se mete em mil projetos – maiores do que o tempo que aparentemente tem – e quer sempre aprender, está sempre em modo descoberta, o que, diga-se, é uma ótima maneira de aproveitar o dom da vida!
«A Bruxa Matilde é observadora e tem uma memória excecional.» Isto são palavras de Valéria Telhados-Pretos, diretora da Escola da Torre, essa escola onde deve ser tão divertido, e às vezes perigoso, aprender. Observadora e com uma memória excecional é a Patrícia. Não sei como é agora, mas nos anos em que trabalhámos mais intensamente, nas nossas reuniões – reuniões só comigo, reuniões com autores – a Patrícia não tirava apontamentos. Não escrevia uma linha, porque, dizia ela, memorizava tudo o que ficava acordado sobre o rumo a dar ao livro: as situações a ilustrar, algum pormenor indispensável para o autor, a posição do lettering na capa, todos as particularidades do projeto editorial. Não escrevia nada. E depois ia para casa e aparecia tudo feito. E isto também é magia.
Que dizer destes livros da Matilde?
Em primeiro lugar, toda esta coleção é muito rica, está cheia de ingredientes que vão ao encontro dos mais novos: tem um lado realista, o dia a dia da escola, as relações familiares, etc. Tem este lado psicológico dos miúdos e dos mal-entendidos e das zangas, o que torna a Matilde (apesar de ser bruxa) muito próxima dos leitores.
Mas depois tem magia. Uma magia lógica e desafiante – não uma magia fácil que resolve tudo. A Matilde tem de aprender, tem de se esforçar. Numa conversa com a avó Úrsula, a Matilde desabafa:
«– Julguei que tinha o poder de criar amuletos e influenciar a sorte, mas afinal…»
«– E tens. Um dia, vais descobrir como controlá-lo.» (responde a avó.)
Tal como na vida real, nestas aventuras as coisas não caem do céu…
Também nesta mesma conversa (entre a Matilde e a avó Úrsula), há uma passagem de que eu gostei muito. No meio de tanta magia, a propósito de uma situação que eu não vou contar (para que leiam o livro e se surpreendam), a conversa é a seguinte:
(A Matilde pergunta)
– Como é possível?
(E a avó responde-lhe:)
– Não sei. O teu feitiço não funcionou.
– Mas… conseguimos o que queríamos! (observa a Matilde)
(E a avó diz)
– É como te disse, metade da sorte é acreditar nela.
Penso que temos aqui uma mensagem forte e de algum modo subtil –porque vem a propósito de uma situação muito concreta – sobre a importância de darmos o melhor de nós mesmos, acreditando que é possível chegar onde queremos. Eu diria que é outra forma de dizer – e de demonstrar, através desta história – que a sorte protege os audazes.
E penso que, ainda que talvez de modo inconsciente, em todos os livros esta mensagem passa para as crianças, o que é um bom valor para a vida. Sem esquecer o principal valor da Bruxa Matilde: tornar o mundo melhor.
Matilde e o Espelho da Sorte
Como começa esta história? Vou ler o primeiro parágrafo:
«Era segunda-feira e a Matilde tinha uma e apenas uma missão: manter a professora de francês debaixo de olho.»
Só este início já nos mostra uma realidade de pernas para o ar. Já há aqui uma inversão, um mundo ao contrário. E também há um mistério: porque será que a Matilde tem de manter a professora debaixo de olho? Ou seja, meia-dúzia de palavras que prometem todo um mundo. E que o cumprem no desenrolar da história.
A professora chama-se Charlotte Roulotte. E isso é outra coisa fantástica neste livro: as palavras, as palavras em si. Vou dizer apenas algumas:
Charlotte Roulotte (que na verdade se chama Karla Karavana, acho que não tem mal dizer aqui, uma vez que no livro isso é dito logo na página 12);
Valéria Telhados-Pretos (a diretora da escola);
Max Stratos (o professor de físico-química);
A Avenida dos Corsários, cheia de lojas luxuosas, prédios vistosos e jacaranduis, umas árvores frondosas que em certa atura do ano pincelavam o chão com flores azul-céu;
As Edições Donzelinha e Alfinete;
Os trigémeos Albano, Almeno e Alcino Pato-Fusco (tios de Matilde);
Enfim, podíamos ficar aqui o dia todo, porque tal como a Patrícia eu gosto muito de palavras e de perceber todos os jogos que as palavras nos oferecem.
E gosto tanto de palavras, que para terminar a apresentação deste livro lhes pedi uma ajuda especial. Vou explicar melhor. Este livro, Matilde e o Espelho da Sorte, tem cerca de 150 páginas. Mas o mundo que tem lá dentro é infinito. Então eu resolvi escolher cinco palavras. Cinco palavras que eu gosto e que me fazem pensar nesta história, e que eu acredito que vão abrir o apetite para ler esta aventura.
Atenção: isto não quer dizer que estas palavras sejam as palavras da história. São, sim, as minhas palavras da história, que quiseram vir especialmente ao meu encontro a propósito desta aventura. (Aliás, uma das coisas boas das histórias é que a mesma história pode dizer coisas diferentes conforme a pessoa que as lê, e isso é uma riqueza).
Vamos então a elas:
A palavra espelho: o espelho desta história é à partida tão normal, tão comum, que apenas serve para observar os cogumelos, para espreitar por baixo das folhas e dos cogumelos, à procura de pulguins e fringalhos. Então, pergunto eu, porque é que este espelho se transformou numa coisa tão importante?
A palavra jardim: a palavra jardim transporta-me para o jardim da tia Miranda Pato-Fusco; um jardim botânico, um jardim de sonho, onde nesta história a Matilde se senta com a avó Úrsula a beber chá e a comer bolachas. É lá que acontece mais um “ligeiro” contratempo. Eu adorava visitar este jardim. Embora de algum modo já o tenha visitado.
A palavra feitiço: nos livros da Matilde, quando sabemos que vem aí um feitiço desta bruxinha, eu preparo-me logo para ler uma espécie de poesia, ou seja, o primeiro feitiço é o das palavras. Vou ler um que aparece nesta história (mas há mais):
— Flutua como leve pena.
Paira, peso-pluma, nesse plano.
Nuvem de algodão!
Que belo encontro de palavras extraordinárias. E o que é que elas provocaram todas juntas? Leiam a história para ficarem a saber.
A palavra encruzilhada: quando temos um problema e não sabemos o que havemos de fazer, dizemos que estamos numa encruzilhada. Só que aqui, neste livro, Encruzilhada não é apenas isso. Aliás, a palavra Encruzilhada já apareceu noutros livros da coleção. Será que estão a querer dizer alguma coisa à Matilde?
Por fim, escolhi a palavra Patrícia. Estejam descansados, não vou começar tudo de novo, mas mais uma vez vos quero dizer. Não se deixem enganar: a Patrícia e a Bruxinha Matilde são uma e a mesma pessoa! E tal como é uma sorte cruzarmo-nos com a Patrícia na vida, também será uma sorte encontrarmos a Bruxa Matilde nos livros! Boas leituras a todos!
Rosário Alçada Araújo
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E é 100% portuguesa, criada pela ilustradora e escritora Patrícia Furtado.
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Sexta-feira 13, espelho da sorte e cartas “falantes”!
O que mais podemos esperar para viver esta nova incrível aventura da nossa bruxa preferida.
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A Matilde está de volta em formato de Diário, à espera que lhe contes tudo sobre ti!