Livros Perguntadores para comemorar o Dia Mundial da Filosofia
Fazer perguntas é uma arte?
A pergunta é uma ferramenta essencial nos diálogos quotidianos e também nos diálogos que se pretendem, de alguma forma, filosóficos.
Warren Berger é um dos autores que recomendo para quem quer treinar e aperfeiçoar A Arte de Fazer Perguntas, expressão que é o título ao seu primeiro livro publicado na chancela Vogais. Ainda que o livro trate do poder do acto de perguntar na geração de ideias inovadoras e revolucionários, é possível transportar aquilo que Berger partilha para a área da educação e da filosofia. Trata-se de um livro que recomendo a quem pretenda exercitar as perguntas, seja individualmente, ou em grupo, com crianças ou jovens.
Livros perguntadores: livros que provocam perguntas
Numa das minhas visitas a uma biblioteca escolar encontrei a seguinte citação em destaque, cuja autoria é atribuída a Ana Hatherly: «Lemos para perguntar». O meu trabalho de curadoria de livros assenta nessa afirmação, pois quando investigo sobre livros inclino-me para aqueles que me provocam perguntas.
Esse encontro com as perguntas não se limita a encontrar pontos de interrogação nos livros. Podemos encontrar perguntas nos livros dos mais diferentes géneros, do romance ao livro técnico. Por exemplo, há livros informativos que são perguntadores, pois convidam a problematizar as temáticas.
Perguntar a partir de um livro exige uma leitura atenta e curiosa. Num contexto de mediação da leitura, é importante modelar essa atenção e curiosidade, de forma a incentivar as crianças ou os jovens a pensar e a gerar as suas próprias perguntas.
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A propósito do Dia Mundial da Filosofia gostaria de partilhar alguns livros que podem ser bons trampolins para fazer perguntas e dialogar sobre essas perguntas, em casa ou na escola.
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Mafalda para Miúdos, de Quino (Iguana)
Em 2024 celebramos os 60 anos da irreverente Mafalda, criada pelo argentino Quino.
No livro Mafalda para Miúdos encontramos as inquietações das crianças, pela voz da Mafalda e dos seus amigos: o Filipe, a Susanita, o Manelito, a Liberdade, o Gui e o Miguelito. A partir do quotidiano das crianças, na escola ou em casa, Quino provoca-nos com perguntas diversas sobre sopa ou dentes de leite, sobre a crítica construtiva e os planos para o futuro.
O 35.º Festival Amadora BD acolheu em Outubro uma exposição dedicada à Mafalda onde era possível encontrar a seguinte pergunta: «Porque é que nós, crianças, não podemos votar?»
Indomáveis: Como tomámos conta do mundo, de Yuval Noah Harari, ilustrado por Ricard Zaplana Ruiz (Booksmile)
Indomáveis relata-nos as origens da humanidade pela pena do historiador Yuval Noah Harari. Afinal, como é que o ser humano, um ser que nasce tão vulnerável, acabou a dominar o mundo?
Este é um livro que nos convoca a pensar o presente da humanidade fazendo relações constantes com o seu passado. Neste livro encontramos perguntas e respostas. Por exemplo, na p. 79 descobrimos a razão pela qual gostamos tanto de comer coisas que não são assim tão boas para a nossa saúde: “os nossos corpos pensam que ainda estão na Idade da Pedra”. Naquela altura, comer doces era mesmo a melhor opção.
Muitas das perguntas que este livro me provocou levaram-me a pensar no futuro da humanidade. Partilho uma dessas perguntas: o futuro da humanidade encontra-se comprometido?
As Coisas Invisíveis, de Andy J. Pizza e Sophie Miller (Lilliput)
O livro As Coisas Invisíveis convida-nos a pensar sobre essas coisas das quais falamos e que não vemos. O medo, o eco, o pivete, o caos, a matemática (queria tanto juntar a esta lista a filosofia!), os risos, a estranheza.
As pessoas leitoras são convidadas a viajar pelos seus sentidos e a usar uns óculos especiais para ver coisas invisíveis. Que coisas? Coisas como a melancolia, a coragem, a empatia, a depressão, a raiva, o amor, o riso ou a esperança.
As Coisas Invisíveis é um livro que nos brinda com ilustrações muito apelativas e divertidas. Ao ver as (visíveis) ilustrações do susto ou da comichão, dou por mim a perguntar: se desenharmos um susto, o susto ganha outro tipo de existência? Ou será que existe mais? Será que se torna real?
Nano: A Espetacular Ciência das Coisas Muito (mesmo Muito) Pequenas, de Jess Wade, ilustrado por Melissa Vastrillón
Esta proposta de leitura também trata de coisas, de coisas muito, mas muito pequenas. A cientista Jess Wade convida-nos a olhar à nossa volta para prestar atenção àquilo que nos rodeia. Nano trata de coisas difíceis de observar e que estão presentes na água, no sal marinho, no algodão: os átomos.
Nano trata de ciência e das pessoas que se dedicam à ciência. Responde-nos à pergunta “Do que trata a ciência?” e, mais especificamente, “Do que trata a nanociência?” Provocou-me uma outra pergunta: “Há limites para a ciência?”
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Boas leituras e boas perguntas!
Joana Rita Sousa (filocriatividade)
Nota: escrevo segundo a antiga ortografia.